Cheguei em casa na terça à noite e achei bem estranha a presença de uma pequena poça d'água em baixo da minha mesinha de madeira. Confesso ter me causado um certo alívio o fato dela não estar em baixo do meu xodó: o armário de madeira - defendido no texto Cinematograficamente encharcada. Estava tão cansada que pouco me importei. Fui agir a vida. Comer e dormir, minha meta de vida naquele momento.
Pela manhã ela continuava ali me olhando. Tateei a mesa, verifiquei os panos próximos à janela e nada. Concluí, então, que alguém poderia ter lavado o corredor do prédio e deixado um considerável volume de água passar por debaixo da minha porta. Resmunguei algo baixinho e fui trabalhar. Choveu muito na terça feira. O dia todo.
Entrei em casa e percebi que a poça não havia se mancado e secado sozinha! A desaforada ainda estava a minha espera! (E a chuva não parava.) Comecei a notar que ela havia se multiplicado. Das duas uma: ou era um milagre ou vazamento. Queria tanto que fosse Jesus agindo.
Resolvi dar mais atenção para aquela, antes inofensiva, e fui seguindo seu rastro. Não vem do chão, não vem de qualquer garrafa de água rompida, não vem do meu armário - Graças!!. Opa! Bem que minha mãe dizia que quem procura acha. Acha confusão, problemas, uma cascata descendo do teto, passando pela tomada e inundando sua sala sem qualquer previsão de ser contida.
Abro a porta desesperada e já com o rodo na mão. Nenhuma previsão de melhora. A água também estava escorrendo pela parede do corredor. Meu pensamento foi levado a todos os prédios do Rio que caíram nos últimos tempos. O teto estava preto, encharcado pela chuva que não dava trégua.
Ligo para minha mãe para avisar? Tenho algo de valor para retirar do prédio? Não, minha câmera está em Niterói e a TV não é LED, LCD já é coisa do passado. Sobrevivo a uma queda do segundo andar? O cara sobreviveu no elevador. E tantos que sobreviveram ao 11 de setembro. Aqui não tem elevador. Mas tudo vai dar certo ao menos que uma viga me acerte. Aí seria muita falta de sorte ou a minha hora mesmo.
O proprietário chega. Ele usava calça jeans e camiseta regata. Naquele frio?! Já é péssimo em dias de sol com todos aquele pelos saindo pela camiseta. Ele sobe até o telhado e constata que a culpa é toda dele, que resolveu economizar e mexer em algo no teto sem repor as telhas no lugar corretamente.
Senti vontade de falar alguns palavrões que estavam entalados, mandar que ele limpasse toda a minha casa incluindo o banheiro, pular em seu pescoço e apertar até cansar minha mão, mas o calo causado pelo rodo doía e tirou minha atenção.
Finalmente chega alguém que entende de telha trepada e "resolve" o problema. "Não vai entrar mais água no teto. As telhas já estão no lugar. Mas esta aí vai continuara escorrendo até secar o que entrou." - comunicou o proprietário com voz de alívio. Alívio para ele que não teve que passar o resto da noite puxando água e rezando para a incontinência da parede parar.
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Sua amiga poça tava era dando um rolé lá em casa, pingando no corredor. Péssima anfitriã. Hunf
ResponderExcluirAmiga, amei...amo seus textos do cotidiano mas com pitadas de humor. Parabéns!!!!
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