Era 2008. Eu apenas tinha um amor no meu imaginário. Uma saudade virtual. Um compromisso utópico. E isso me deixava em uma zona de conforto. Eu ainda era firme e decidida. Dizia "tchau" sem medo de que ele não me ligasse mais.Eu comecei a me preparar 15 dias antes dele chegar. Tudo deveria sair conforme o meu roteiro, pois é como eu sei trabalhar. Ele aceitou todas as minhas condições impostas. No fundo eu rezava para que ele discordasse, me dissesse não. Às vezes preciso disso. De alguém que interaja com minhas fantasias para me mostrar que isso é real.
No dia em que ele chegou eu convidei uma amiga para me acompanhar. Afinal, o que eu tinha que pudesse provar que aquele era realmente ele? Uma voz e algumas poucas fotos levemente desfocadas. Até havia algumas mais nítidas, nas quais ele estava lindíssimo, mas passara alguns anos que foram tiradas.
E eu também precisava de alguém que me servisse de testemunha. Alguém que interagisse com minha imaginação que teimava em me tirar o foco.
Cheguei absurdamente atrasada em nosso primeiro encontro. Segundo o porteiro do prédio, ele havia me esperado até aquele momento, de pé, em frente ao prédio. Prédio estranho - foi a primeira coisa que pensei. E já torcia para que tivesse algo errado, assim eu não precisaria viver. Já teria sido feliz na minha imaginação.
O porteiro interfona e aquele segundos de espera me matavam lentamente. Ele pede para que eu suba. Jamais, - eu penso - o que que ele está pensando que eu sou. E antes que eu pudesse dar alguma resposta mal criada pela minha mente, meu coração pulou na frente e cheio de gentileza respondeu: poderia pedir para que ele me encontrasse aqui, por favor? Ufa! Meu coração certamente sofreria sanções depois deste gesto repentino e espontâneo, mas terá valido a pena.
Enquanto aguardava o elevador, minha respiração sumiu e meus sentidos foram com ela. Eu já não ouvia e nem falava mais. A Nana disse algo que jamais saberei o que é. E enquanto escrevo esse texto, minhas mãos suam relembrando a angústia do meu corpo naquele momento infinito.
E sem que eu pudesse evitar, a porta do elevador antigo daquele prédio estranho no coração de Copacabana se abre. E quando ele me olha, sinto um vento carregando minha alma. Ela havia me deixado. O meu mundo de fantasia já não tinha mais roteiro após o diretor gritar "ação".
Tudo aconteceu em câmera lenta e eu consigo me lembrar de um momento em que a Nana me cutucou e disse "respira, amiga!". Eu havia esquecido. Só sabia respirar no meu mundo construído. E naquele momento eu fui obrigada a rasgar o roteiro e viver de improviso.
Lindo! Quero a continuação...
ResponderExcluirAh, aquele... :)
ResponderExcluir"E naquele momento eu fui obrigada a rasgar o roteiro e viver de improviso."
ResponderExcluirDecisão importantíssima pra muitas coisas na vida!